terça-feira, 1 de julho de 2008

o chamado


ele calçava suas botas,
ela chorava.
ele punha sua farda,
ela pensava
'por quê tudo isso?'
ele repetia pra si mesmo:
'é preciso'
ela se desatava em lágrimas
mas ele era forte
o país precisava dele,
e sua mulher também.

tudo pronto, hora de partir
seu coração dilacerado de tanto bater,
pois não sabia se algum dia iria voltar.
sua mulher aos prantos, tentando impedir
pois lá no fundo devia saber
que não haveria uma hora de chegar.

seus corpos se distanciavam
seus olhos não a enxergavam mais
ia deixando sua vida no caminho
torcendo para um dia pegá-la de volta.
o que lhe restara eram as lembranças,
que com o tempo se tornariam frias e vazias
como os olhos daqueles que trocaram tudo, por nada
esse era o preço da revolta.

a guerra estava lá
esperando por ele
junto de homens sedentos por seu sangue,
armados até os dentes
que já esqueceram o que significa amar
perdoar, chorar, sentir,
e o porquê de estarem naquele lugar,
o cheiro de carniça já não os incomodava
pulavam sobre os corpos que a guerra espalhava
rezando para não serem os próximos no chão.

ela rezava
ele esperava
ela sofria
ele voltava
ela sorria
ele chegava
sem pernas, as perdia
sem lágrimas, não sentia
sem coração, ele já sabia.

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